quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

REFÚGIOS por Dênis Caberlon

Devo ter pego muito piolho na infância. Tento me recordar de mais momentos em que me recordo do meu pai passando aquele pente fino preto para derrubar os monstrinhos pretos que caminhavam na minha cabeça. Afinal de contas, até hoje quando eu tenho um problema, quando preciso pensar e me concentrar me pego cavocando a cabeça loucamente! Mas porquê? De acordo com a explicação de especialistas - não que eu duvide - isso trata-se de uma obsessão compulsiva agravada pela idade, alimentada por toda a vida. Essa utilizada como subterfúgio para desertar-se dos medos e das dificuldades. -E qual gigante dificuldade é crescer! Conseguir vencer os desafios do desconhecido.

 

 

Ainda lembro - o que me faz pensar ter ficado mesmo marcado o fato - na minha infância quando ganhei a minha bicicleta. Jamais havia sido golpeado por tamanha surpresa, felicidade e realização! Aquela bicicleta da propaganda estava sim, materializada na minha garagem, vermelha, novíssima e intacta, pronta para realizar cada manobra que por muito tempo apenas imaginei, sonhei e desejei profundamente! Naturalmente, ENGOLI o meu chiclete! Num sobressalto de não mais do que um segundo de paralisação enquanto observava aquela inimaginável arte sobre duas rodas que estava ali, bem na minha frente... dali em diante, mantive, não sei por qual caminho da psicologia, a engolir a bala, o chiclete ou mesmo a comida, sempre que sou tomado por uma surpresa que me deixe assim perplexo.

 

 

Mas afinal, porque destes dois parágrafos de histórias perdidas no tempo e no passado abstrato?

-Tudo aquilo que muitos rotulam costume, obsessão ou desvario de maneira a não tratar de maneira mais delicada ou adequada, eu prefiro chamar de retiro. A qualquer criança está a suscetibilidade de contrair um comportamento obsessivo-compulsivo pelo que fato que, obviamente todos sabemos, quando pequenos, recebemos diversas influências externas, positivas e negativas, que alegram e amedrontam. São informações e fatos novos para a compreensão e assimilação da criança e, tratar de defender-se é a prioridade incondicional do ser humano, utilizando o que de mais próximo temos para utilizar de maneira rápida e que nos leve para o retiro seguro, feche a redoma invisível que nos conforta e nos alimenta de coragem para seguimos pelo caminho das descobertas fantásticas que a vida nos oferece. 

 

 

Penso que, se houver uma possibilidade de não sofrermos, vamos utilizá-la e, se na infância encontramos o nosso refúgio em uma ação, seja ela mexer na orelha, coçar a cabeça ou mesmo mexer no cavanhaque, ótimo! Vamos lá! E ninguém te poderá chamar de louco por isso jamais, pois falamos de, segurança pessoal, falamos de autoconfiança e tranquilidade! Buscar solitário refúgio mental nas cavernas do inconsciente para tratar de pequenas dificuldades que apresentam-se no caminho. Sendo assim, não diferente daquilo que cada um faz para evitar problemas, resolvê-los ou evitá-los, somos todos resultado do acúmulo de ações repetitivas que tratamos quando possível, fugimos quando impossível (nos parece) para evitarmos a dor e sofrimento.

 

 

Pois bem, cada um com o seu "cacuete", tique, sestro, odontagra, neuralgia, otodinia ou seja lá como se adjetiva, importante é, independente do seu rótulo, que seja apenas isso e não algo crônico que venha a te impedir de viver normalmente a vida, deixar com que faça algo diferente o menor do que faria caso não o tivesse. Espelho-me muito em meu pai, como cada um deve ter um ídolo que siga e, nele imite certos hábitos que vieram a tornar-se parte da sua índole, da sua personalidade. Portanto que sejam enquanto assim, positivos e te levem a vencer os desafios pequenos, analisando que, se outro conseguiu, também és completamente capaz.

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