sábado, 10 de janeiro de 2015

Pensamento 14

          O deserto dos Tártaros...

          Sentado em seu quarto ele esperava...
          E ali sentado em sua cama. Protegido por seu pijama como armadura. Esperava.
          Tinha estado em tantos lugares. Conhecido tantas pessoas. Agora ali, sentindo-se cansado, com seu tempo se esgotando. Esperava.
          Olhava suas pantufas que agasalhavam os pés já frios. 
          De um lado caído ao chão, um arco importado. Do outro uma espada de plástico.
          Se ao menos a espada fosse de aço. Talvez assim pudesse invocar a proteção de Ogum...
          Mas, não. Havia abandonado suas raízes há tempos. E não tinha humildade suficiente para voltar atrás. E ele esperava.
          Talvez pudesse usar o arco?
          Não. Havia entendido tarde demais, que um verdadeiro arqueiro constrói seu próprio arco, usando os restos do que a Grande Mãe lhe oferece, no infindável campo de batalha. Não se compra por ai, em qualquer lugar pelo mundo.
          E olhando o arco. Parado. Esperava.
          Se ao menos fosse um centauro. Será que entenderia, que por mais evoluído que fosse. Nunca poderia abandonar sua parte animal que contata a terra?
          Será que assim galopando ao sabor do vento, entenderia que a força retesada, emprestada. Quando liberada, apenas faz com que o Universo todo se mova; trazendo assim o centro do alvo até a ponta da flecha?
         ...E na penumbra esperava.
         Porque não havia aprendido com os grandes mestres? Ao invés de usar o que eles tentavam ensinar com tanta insistência em apenas uma ferramenta. Deturpando, transformando e usando somente para poder ter uma vida confortável, com pouco esforço.
         E esperava. Talvez algo magico.
         Quanta ignorância. Não sabia que magia não se ensina. Não se aprende. Não se busca. Ela é que nos encontra. Nos arrebata. Não podemos usufrui-la. Nós é que somos usufruídos. E passivamente, apenas podemos senti-la. Vive-la.
         Ah! Que pena que seu limitado conhecimento não permitia que visse coisas tão banais e simples.
         E ali estático. De pijama e pantufas.
         Pateticamente. Esperava...   

                                                                   

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